A Pâmela é uma pessoa gentil e sensível. Ela presta atenção às emoções dos outros, é amável e muito atenciosa com todos em sua volta. Pâmela é também otimista e animada, vendo o lado bom mesmo nas situações difíceis. Os colegas de Pâmela adoram trabalhar com ela. Independente da pressão ou do estresse do dia, Pâmela nunca perde a linha e é sempre entusiasmada.
O chefe de Pâmela tem verdadeiro apreço por trabalhar com ela, pois é confiável, leal, ética e raramente faz reclamações. Pâmela demonstra altos níveis de cidadania organizacional. Sua personalidade denota engajamento no trabalho, mesmo quando o chefe não a orienta da melhor maneira.
E então, você também quer contratar Pâmela? Sim, ela parece ser uma funcionária ideal, com excelente potencial para uma carreira na área administrativa. A disputa é grande para contratar a Pâmela, pois a maioria das pessoas vê a sua personalidade como uma grande qualidade e não apenas no contexto do trabalho. O grande motivo desse interesse nesta profissional é por ela apresentar alta inteligência emocional (IE), que justifica as características descritas acima.
A inteligência emocional alia habilidades interpessoais como: sociabilidade, sensibilidade, prudência, capacidade de se ajustar a um grupo. Essa habilidade já se provou importante para vários aspectos da vida pessoal e também profissional.
A IE está diretamente associada à felicidade, ao bem estar físico e emocional. A associação também é feita através de uma liderança positiva, satisfação e performance no trabalho. O que muitos ainda não perceberam é que a inteligência emocional está negativamente associada a comportamentos de trabalho contra produtivos, psicopatia e propensão ao estresse. Contudo, esse lado “ruim” é largamente inexplorado, mas conheça neste artigo o que já foi descoberto sobre o assunto.
Vamos voltar a nossa personagem Pâmela e analisar as implicações menos favoráveis que o seu alto quociente emocional pode trazer.
Níveis menores de criatividade e de inovação
O fato é que a criatividade sempre foi relacionada a atributos característicos ao baixo nível de inteligência emocional como: mau humor artístico, não conformismo, impulsividade hostil e personalidade volúvel. Não podemos generalizar, pois há sim muitas pessoas criativas e inteligentes emocionalmente.
Mas, o caso de Pâmela, pelo pouco que a descrevemos, poderíamos dizer que ela é excelente em seguir processos, construir relações e trabalhar com os outros e ela não apresenta níveis de não conformismo ou rebeldia, necessário para estimular a desafiar o status quo e substituí-lo, de forma criativa ou inovadora.
Dar e receber feedback negativo é um desafio
Mesmo que o feedback negativo exija interação social e quem tem inteligência emocional possui essa habilidade, se você olhar além da superfície de Pâmela, conseguirá perceber alta sensibilidade interpessoal. Ou seja, suas preocupações são fundadas na empatia e isso pode dificultar na hora de receber ou prover um feedback crítico.
Outro ponto que podemos destacar é que muitas pessoas com alta IE já apresentaram indiferença diante a qualquer feedback negativo. Essas pessoas são tão calmas, ajustadas e positivas que podem não se deixar abalar por um feedback negativo, muitas vezes não o considerando como um trampolim para uma possível melhoria em suas vidas.
Relutância em contrariar as pessoas
Uma das principais razões que tornam Pâmela tão encantadora é que ela não contraria as pessoas em seu redor. Por mais que pessoas como ela sejam bem-dotadas para empregos de baixa e média complexidade, quando falamos em papéis de liderança sênior, o ato de contrariar vem junto com o pacote. Diante destes papéis, é necessário ter fortes habilidades para fazer escolhas impopulares com frequência, trazer mudanças e focar na entrega de resultados, mesmo que isso ponha em risco a harmonia com as relações com alguns funcionários.
Profissionais como a Pâmela, são mais focadas em se relacionar bem do que em estarem à frente, o que dificulta a tomada de decisão impopular, a busca por inovação e por crescimento.
Aversão ao risco
Inovação tem como um dos ingredientes o risco. Pessoas como Pâmela têm muito mais tendência em buscar segurança do que tomar decisões arriscadas. A explicação está que os altos níveis de inteligência emocional também oferecem altos níveis de autoconsciência. Ou seja, quanto maior sua IE, maiores as chances de resistir aos impulsos tomar decisões pensadas. Por isso o perfeccionismo contra produtivo e o forte autocontrole são bastante comuns nas características daqueles com inteligência emocional muito desenvolvida.
Conclusão
Não estamos aqui dizendo que Pâmela não é uma ótima profissional, muito pelo contrário, ela é. Entretanto, a sua alta inteligência emocional a torna mais adequada a funções nas quais regular as próprias emoções e ser apto a se adaptar são pivôs. Algumas carreiras que se beneficiam com o perfil de Pâmela: vendedores, agentes imobiliários, atendimento ao consumidor, analistas.
Já atividades que envolvem criatividade, inovação, liderança, provocação de mudanças e altos riscos não são os mais indicados para esse perfil. Nada impede que ela aprenda a utilizar a inteligência emocional a favor dela nestes cargos, mas é necessário empenho, autoconhecimento e altos níveis de desenvolvimento pessoal.
Não há dúvida de que a inteligência emocional é importante para profissionais de qualquer área. Entretanto, o que queremos dar aqui é o alerta que a obsessão em torno dela pode criar uma força de trabalho que está sempre emocionalmente estável, feliz e diplomática. Esse cenário apresentará bons funcionários e gerentes, mas eles dificilmente serão líderes visionários ou agentes de mudança. O equilíbrio e a análise do perfil do profissional, levando em consideração o comportamento e as habilidades são essenciais para a formação de uma verdadeira equipe de alta performance.
https://hbrbr.uol.com.br/o-lado-ruim-da-inteligencia-emocional/